domingo, 29 de julho de 2007

Torça pela verdade.

Hoje, 29 de Julho, o Brasil viveu seu último dia do Pan Rio 2007.
Assim que acordei, tratei de ligar a TV para assistir à programação esportiva do dia. Foi emocionante ver a chegada de um jovem maratonista brasileiro, Frank Caldeira, que nos últimos momentos mostrou uma força de vontade impressionante e venceu a prova depois de percorrer um percurso de 42 quilômetros, dando ao Brasil mais uma das suas 54 medalhas de ouro. Confesso que fiquei com os olhos marejados e vibrei com sua vitória.
Mas logo após a prova, procurei avaliar com uma autocrítica se eu deveria sequer ter assistido a qualquer das provas ou competições, afinal foram vergonhosos os desmandos e irregularidades para a realização dos jogos;
O inacreditável erro no orçamento do Pan não é apenas a ponta de um iceberg, mas de toda a “calota polar”. Como algo inicialmente orçado em pouco mais de 400 milhões de Reais é concluído com a estratosférica quantia de mais de 3 bilhões? Isso mesmo, quase dez vezes mais! O presidente do comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, entregou o design das roupas da delegação olímpica à sua cunhada Mônica Conceição. Deu a chefia das Delegações Olímpicas e Pan-americanas do Brasil ao seu diretor e companheiro Marcos Vinicius Freire que, ao mesmo tempo, representa no Brasil a AON Seguros que é quem faz os seguros das seleções do seu Comitê. De quebra, esse mesmo Marcos Vinicius Freire é amigo e sócio do Alexandre Aciolly que, por sua vez, ganhou os direitos de comercialização dos bilhetes do Pan-americano. Este também ganhou os direitos sobre as cerimônias de inauguração e encerramento da mesma competição. A agência de turismo que presta serviços ao COB é a da sua grande amiga Cristina Lowndes, em uma licitação até hoje contestada e dirigida. A empresa contratada para idealizar (somente idealizar, e mais nada) as medalhas do Pan-americano ganhou o direito de fazê-lo através de uma mera carta convite, auferindo R$ 720.000,00 em um contrato de três anos. A filha de sua atual mulher é estagiaria de direito do COB e viajou a Suíça, as expensas da entidade, para "assessorar a defesa do Vanderlei Cordeiro de Lima", sem sequer estar formada, ou possuir inscrição na OAB/RJ. Apesar de o decreto que regulamenta a lei Piva obrigá-lo a licitar todas a contratações de obras e serviços, por ser o COB um órgão que vive do dinheiro público, este evento foi absolutamente ilicitado, a não ser a famosa contratação da Tamoyo Turismo, da sua amiga Cristina Lowndes, sobre a qual pairam acusações de licitação dirigida.
Estes são apenas alguns dos fatos que foram noticiados pela imprensa ao longo dos últimos meses. Há um completo relato dos mesmos no blog http://averdadedopan2007.blogspot.com/2007/04/carta-aberta-de-umprofessor-ao-cob.html que foi fonte deste único parágrafo de denúncias. O blog apenas tratou de compilá-las. Faça um favor a sua cidadania e torça, mas torça sabendo a verdade.
Quanto a minha pergunta, se eu deveria ter sequer assistido a qualquer das competições...
A resposta é sim!
Assisti por que valeu muito a pena ver o atleta Diogo Silva do Tae Kwon Do ganhar uma medalha de ouro depois de gastar o dinheiro de um suado carro para custear seu treinamento, pois a miséria de R$ 600,00 mensais só o faria descer de categoria com uma dieta de fome. Assisti porque vi este mesmo atleta dedicar sua medalha a crianças pobres brasileiras que vivem a mingua. No momento mais importante de sua vida, ele lembrou o que havíamos esquecido. Assisti por que vi atletas do remo, da esgrima do levantamento de peso e que não têm patrocínio, mas um “paitrocínio” e ainda assim conseguiram medalhas. Assisti por que sei que é uma chance de ver os brasileiros no topo de um pódio de uma competição que apesar de hipervalorizada no Brasil, é tratada por outros países apenas como uma competição menor que ajuda na preparação para uma olimpíada no ano seguinte. Assisti para ter o gosto de ver o Brasil nos primeiros lugares de alguma lista que não seja de índices de violência ou corrupção, mas um quadro de medalhas.
Mas por que então é dada esta dimensão tão grande aos jogos Pan-americanos?
Porque dá lucro! Ou Você não percebeu a quantidade de anunciantes de peso que inundavam os intervalos nos últimos 20 dias? Propagandas milionárias e cheias de efeito, locutores e apresentadores empolgadíssimos, nos contagiando com o clima de Brasil “potência Olímpica” que ainda consegue ficar atrás dos Estados Unidos (que não mandou todos os atletas de ponta) e da “ultra desenvolvida” Cuba(???). Mesmo com o atual momento político, com senadores sob investigação, tragédia aérea e colapso iminente no transporte aéreo, nada disso foi mais que mencionado como notícias coadjuvantes da grande estrela que são os jogos.
Torci sim, porque sou brasileiro e apesar de tudo acredito em mudança, mas me recuso a aceitar a política do pão e circo. Nossos atletas não são gladiadores e polegares para cima ou para baixo não devem ser escolha de governantes e corporações de entretenimento que visam lucrar às custas de algo tão nobre como o esporte.

Um comentário:

Unknown disse...

Realmente , por mais trágico que seja, esse fato é real.
Como fazer com que o povo brasileiro perceba o que está por trás de tanto oba-oba, que escamoteia a realidade cruel desse país , através de um fanatismo forçoso , é a minha grande indagação.
Gilvan Costa.